{"id":4045,"date":"2004-05-11T13:57:59","date_gmt":"2004-05-11T18:57:59","guid":{"rendered":"http:\/\/musicabrasileira.org\/?p=4045"},"modified":"2013-07-11T09:56:21","modified_gmt":"2013-07-11T14:56:21","slug":"carlos-malta-entrevista","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/musicabrasileira.org\/carlos-malta-entrevista\/","title":{"rendered":"Carlos Malta: Entrevista"},"content":{"rendered":"<h2>Carlos Malta fala sobre\u00a0<i>O Escultor do Vento<\/i><\/h2>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<h1><img data-recalc-dims=\"1\" loading=\"lazy\" decoding=\"async\" class=\"alignleft\" alt=\"Malta na r\u00e1dio\" src=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/malta1.jpg?resize=250%2C220&#038;ssl=1\" width=\"250\" height=\"220\" \/>H\u00e1 algum tempo atr\u00e1s, em uma das apresenta\u00e7\u00f5es que Carlos Malta fez em Nova Orleans, eu tive o prazer de acompanh\u00e1-lo a ensaios, oficinas, programas de r\u00e1dio e shows na ativa vida noturna daquela cidade. Uma noite nos sentamos num barzinho do movimentado French Quarter e, tomando algumas cervejas e se deliciando com a culin\u00e1ria de Louisiana, o papo rolou facilmente. Falamos de improvisa\u00e7\u00e3o, do come\u00e7o da carreira, das influ\u00eancias e d&#8217;<i>O Escultor do Vento<\/i>, o projeto que o trouxe at\u00e9 Nova Orleans pela primeira vez.<\/h1>\n<p>&nbsp;<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Qual \u00e9 a rea\u00e7\u00e3o do pessoal quando voc\u00ea apresenta essas oficinas, como na Berklee School of Music e aqui na Universidade de Nova Orleans?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Por mais dif\u00edcil que seja fazer assim uma coisa fora do habitual, assim como na Berklee que tem fama muito ajeitada, muito justa, foi muito legal porque pude justamente jogar com essa propriedade do m\u00fasico que tem que saber improvisar. Mesmo o m\u00fasico erudito ou m\u00fasico cl\u00e1ssico, quando ele est\u00e1 perdido, cara, ele vai fazer o qu\u00ea? Cad\u00ea o meu score? Ele vai fazer uma coisa que vai lembrar a ele o que ele precisava lembrar. E isso se chama improvisa\u00e7\u00e3o. Voc\u00ea est\u00e1 disposto a fazer uma improvisa\u00e7\u00e3o, fazer de uma improvisa\u00e7\u00e3o um solo ou uma re-harmoniza\u00e7\u00e3o ou arranjo. Pra mim isso tudo \u00e9 uma maneira de improvisar. A pr\u00f3pria composi\u00e7\u00e3o, quando voc\u00ea comp\u00f5e de fato, voc\u00ea est\u00e1 fazendo um improviso dirigido. Voc\u00ea est\u00e1 escrevendo m\u00fasica que n\u00e3o existe. Voc\u00ea est\u00e1 tirando a m\u00fasica de um lugar que n\u00e3o existe. O que voc\u00ea est\u00e1 fazendo? Voc\u00ea est\u00e1 improvisando. Criar \u00e9 uma maneira de voc\u00ea improvisar e improvisar \u00e9 uma maneira de criar dentro de uma linguagem jaz\u00edstica. \u00c9 o momento.<\/p>\n<p>Quando voc\u00ea est\u00e1 dentro do est\u00fadio tem a possibilidade de muitos canais. Ent\u00e3o essa foi inclusive uma op\u00e7\u00e3o que eu tive quando fui fazer o <i>Escultor do Vento<\/i> foi justamente n\u00e3o ter essa id\u00e9ia de sair improvisando. Isso eu posso fazer no palco. Ent\u00e3o quando eu fiz o <i>Escultor do Vento<\/i>, eu qeuria fazer um disco como produtor exigindo de um arranjador e esse arranjador exigindo de um m\u00fasico. Nessa escala de valores mesmo. Eu era primeiro o produtor que estava gastando o meu dinheiro. Peguei esse dinheiro e resolvi jogar numa coisa minha. O produtor achou o cara campe\u00e3o pra fazer o som do disco. A virtude m\u00e1xima do disco \u00e9 o som. O engenheiro de som Fabrizio de Francesco compreendeu o que era o som que eu queria tirar do disco. Eu dizia:<\/p>\n<p><i>I want a sound like this, coming out from the walls. I want to see the instruments coming out from the walls. [Eu quero um som assim, saindo das paredes. Eu quero os instrumentos saindo das paredes.] <\/i><\/p>\n<p>A\u00ed ele compreendeu isso e fez o som que eu precisava. Ent\u00e3o o produtor achou a coisa principal pra um disco: o engenheiro de som. Ent\u00e3o como parceiros a gente produziu o disco. Nessa escala de valores o arranjador apareceu como a estrela do disco porque \u00e9, e o compositor tamb\u00e9m eu acho que ali muito mais e o instrumentista como realizador, como articulador. Botei o Robertinho Silva, Leandro Braga, Lenine, Guinga, Nico Assump\u00e7\u00e3o, Nelson Faria, o Quarteto Guerra-Peixe (que \u00e9 lindo!), Marcos Suzano, Pife Muderno. Todo esse pessoal &#8212; s\u00e3o quase 50 pessoas que passaram por esse est\u00fadio. O pessoal do Coreto Urbano, que foi uma grava\u00e7\u00e3o que foi uma gin\u00e1stica pra por todo mundo ali dentro. Foi uma produ\u00e7\u00e3o assim de jeitinho brasileiro, que tinha de dar um jeito pra sair e ficou maravilhoso. Todo mundo que ouve o disco diz o disco \u00e9 uma del\u00edcia, eu ou\u00e7o a toda hora, todo dia. \u00c9 muito bom. Eu acho que as pessoas falam a verdade.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Falando mais de improvisa\u00e7\u00e3o, no caso de &#8220;As Tr\u00eas Mo\u00e7as&#8221;, no disco fala que voc\u00ea n\u00e3o escreveu, n\u00e3o havia partitura. Ali foi tudo improvisado?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Ah, ali eu tenho s\u00f3 que corrigir uma coisa: esse cr\u00e9dito. Na verdade quando estava conversando com o [Jos\u00e9 Domingos] Raffaelli ele compreendeu que essa era a m\u00fasica que eu estava falando. &#8220;As Tr\u00eas Mo\u00e7as&#8221; est\u00e1 toda escrita e foi uma das que deu mais trabalho porque como eu estou tocando todas as partes, eu tenho que saber qual \u00e9 a din\u00e2mica de cada uma pra parecer que aquilo \u00e9 um ensemble tocando junto e ao mesmo tempo, on time. Essa m\u00fasica a qual ele se refere \u00e9 a \u00faltima que \u00e9 &#8220;Na Cadencia do Samba\/Isso Aqui o Que \u00c9&#8221;. Ali eu gravei, sabe aquela coisa do little kid in the studio, you know, tem um moleque no est\u00fadio. Ent\u00e3o eu gravei um track de guia e falei assim, bom, eu vou cobrir isso aqui com instrumento. Foi o Ary Barroso e Luiz Bandeira do final do disco. Ali eu fa\u00e7o uma homenagem a minha inf\u00e2ncia musical. Acho que me apaixonei por m\u00fasica muito cedo por causa do Canal 100 que tocava m\u00fasica [Malta vocalisa a faixa do disco]. Aquilo \u00e9 um arranjo maravilhoso. Aquilo \u00e9 L\u00e9o Peracchi com certeza ou \u00e9 Radam\u00e9s Gnatalli. \u00c9 um tema famoso que passava futebol em c\u00e2mera lenta. You could see the faces of the guys playing with the ball, everything every detail with the ball.[Voc\u00ea podia ver os rostos dos caras jogando com a bola, tudo e todos os detalhes com a bola.] Uma homenagem \u00e0s minhas fontes de inspira\u00e7\u00e3o e eu fecho o disco com esse som assim [Malta assobia sua &#8220;marca registrada&#8221;].<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Voc\u00ea lembra qual o primeiro disco que comprou? O que te despertou em m\u00fasica?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Olha, acho que a primeira coisa que me despertou em m\u00fasica foi quando eu tinha assim uns 3 anos de idade. Eu ganhei do meu padrinho, que era meu av\u00f4 paterno e um diplomata brasileiro &#8212; acho que estou seguindo o trabalho dele &#8212; ele morreu eu era muito jovem. Ele me deu um bicho que me acompanhou, um bicho de pel\u00facia daqueles que o moleque baba, vomita em cima. \u00c9 um companheiro&#8230;<\/p>\n<p><b>EL &#8211; &#8230;Um teddy bear, o tal ursinho de pel\u00facia.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; \u00c9 isso mesmo. Voc\u00ea dorme com ele. Voc\u00ea t\u00e1 com febre, voc\u00ea d\u00e1 porrada na cara dele, sabe, aquela coisa. Pois \u00e9, eu vivi com esse bichinho assim uns 10 anos da minha vida, na minha inf\u00e2ncia. E eu acho que a primeira manifesta\u00e7\u00e3o de m\u00fasica que eu tive foi quando eu engoli o guizo que ele tinha [risos]. Ele tinha um guizo que eu botei na boca e engoli. E acho que \u00e9 isso [ele assobia de novo].<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Ainda est\u00e1 l\u00e1. [risos]<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Ent\u00e3o t\u00e1 aqui, bicho. Que doideira! Ent\u00e3o, depois disso eu vim a ver muita televis\u00e3o, muita n\u00e3o. Mas na televis\u00e3o eu vi um programa com o Altamiro Carrilho tocando a flauta e o Hermeto fazia o acordeon desse program. Tinha o, como \u00e9 o nome dele, o Serafim da tuba. Tinha umas figuras assim que tocavam nesse programa. Isso a\u00ed povoou a minha inf\u00e2ncia musical. Como eu falo naquela mat\u00e9ria, tinha um grupo que tocava toda Folia de Reis l\u00e1 em frente \u00e0 minha casa no museu que hoje em dia \u00e9 o Museu Carmen Miranda. Na \u00e9poca era o Museu de Artes e Tradi\u00e7\u00f5es Populares no Aterro do Flamengo. Assim que inauguraram o Aterro do Flamengo fizeram esse museu. Sempre tinha uma Folia de Reis que vinha um flautista, um palha\u00e7o. Eu ficava muito assustado com ele pois ele usava uma palha assim e ficava dan\u00e7ando ao som da flauta. Era um neg\u00f3cio de voc\u00ea ficar assim com medo. Eu n\u00e3o via a cara do sujeito. Era palha e o cara dan\u00e7ava assim. Tinha um sujeito que dan\u00e7ava zabumba, todos com chap\u00e9u assim. \u00c9 muito interessante, muito interessante. Depois tem o meu pai que tocava viol\u00e3o em casa um bocado. Eu pegava o viol\u00e3o mas n\u00e3o tocava nada. Eu ficava com o viol\u00e3o na frente assim falando, P\u00f4, que bacana isso, n\u00e9. Ter um instrumento na m\u00e3o. A\u00ed eu ouvia as m\u00fasicas na vitrola de casa. A vitrola de casa tinha uma luz que parecia uma luz de show. Eu botava aquele lance ali e ficava viajando. Era como um palco. Quer dizer, tem coisas que mesmo voc\u00ea sendo muito jovem sana uns ensaios do que \u00e9 que voc\u00ea vai fazer na sua vida. No meu caso, sempre a m\u00fasica apareceu dessa forma. A\u00ed aos 12 anos eu comecei a tocar a flauta doce que vi na escola. A professora da escola mostrou e tinha uns colegas tocando tamb\u00e9m. A\u00ed apareceu uma revista que tinha umas fotos de m\u00fasicos que hoje em dia eu conheco todos. Tinha uma foto do Gil tocando flauta doce. Tinha uma foto do Hermeto tocando, Herbie Mann, Jean Pierre Rampal e outros. Todos esses caras eu conhe\u00e7o hoje em dia. Ent\u00e3o o neg\u00f3cio \u00e9 engra\u00e7ado que parece que eu estava vendo um tro\u00e7o backwards. Uma coisa assim antes de acontecer.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Os \u00eddolos se tornaram colegas&#8230;<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Tudo isso \u00e9 uma coisa engra\u00e7ada, bicho. Muito louca. A m\u00fasica sempre falou, quer dizer, gritou, berrou, urrou, entendeu, at\u00e9 eu vim fazer essa soma com o Hermeto. Eu viajei pelo Brasil com o Antonio Carlos &amp; Jocafi, Maria Creuza, Johnny Alf, a Cor do Som, Zizi Possi no come\u00e7o da carreira, Geraldo Azevedo, Xangai. Todas essas figuras eu conhe\u00e7o de longas datas. Eu toco desde 1987 profissionalmente. Com 17 anos eu me profissionalizei. Ent\u00e3o, p\u00f4, eu tenho pra l\u00e1 de 20 anos. Tenho que falar baixo se n\u00e3o o minist\u00e9rio vai dizer tem que se aposentar.<\/p>\n<figure class=\"thumbnail wp-caption alignright\" style=\"width: 313px\"><img data-recalc-dims=\"1\" loading=\"lazy\" decoding=\"async\" alt=\"Malta em oficina\" src=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/malta3.jpg?resize=313%2C215&#038;ssl=1\" width=\"313\" height=\"215\" \/><figcaption class=\"caption wp-caption-text\">Oficina na Universidade de Nova Orleans<\/figcaption><\/figure>\n<p><b>EL &#8211; E a liga\u00e7\u00e3o com o nordeste? Parece que h\u00e1 muito. Ouvindo suas m\u00fasicas a gente ouve bai\u00e3o, frevo&#8230;<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Claro. O nordeste \u00e9 a minha op\u00e7\u00e3o. Na \u00e9poca todo mundo estava escolhendo vir pra Boston estudar na Berklee School, eu tenho orgulho de dizer isso, principalmente comendo um camar\u00e3o assim aqui em Nova Orleans. \u00c9, o sul \u00e9 o peda\u00e7o do nordeste que se desprendeu e ficou preso pelo M\u00e9xico. Acho que Nova Orleans era preso com a Bahia, Recife e um peda\u00e7o do Rio. A\u00ed depois de um cataclisma desses a\u00ed da vida, esticaram e puxaram. N\u00e3o, pera\u00ed, d\u00e1 pra c\u00e1. N\u00e3o, d\u00e1 pra c\u00e1. A\u00ed o M\u00e9xico ficou segurando. Cuba ficou no meio fazendo a bola. E a gente fica assim com eles. \u00c9 lindo isso. Enquanto o pessoal estava indo pra fora, pra Boston, pra Alemanha ou mesmo pra Su\u00ed\u00e7a, eu acreditando que o Brasil era uma das maiores fontes de inspira\u00e7\u00e3o, fonte pra explorar musicalmente. Eu pensei, porra, pra que vou aprender a tocar bebop, jazz e n\u00e3o sei o qu\u00ea, se eu posso aprender a tocar o frevo &#8212; que \u00e9 dificil pra caramba, sabe &#8212; se eu vou poder frasear bacana em cima de um bai\u00e3o, saber tocar bai\u00e3o, como \u00e9 que acentua, como \u00e9 que faz um maracatu. Quer dizer, isso sempre esteve presente na minha vida, essa m\u00fasica de choro, essa m\u00fasica de bossa nova. Meu pai, como era violonista, ele levava isso pra dentro de casa. A bossa nova eu ouvia dentro da barriga da minha m\u00e3e talvez. A minha av\u00f3 \u00e9 fundadora do Conservat\u00f3rio Brasileiro de M\u00fasica, mas n\u00e3o teve a menor influ\u00eancia na minha escolha pela m\u00fasica. Mas de certa maneira, a gente como vem fazendo uma varredura, como vem resgatando outras miss\u00f5es ao longo da nossa vida, a gente acredita que isso tudo seja influ\u00eancia. De uma certa maneira voc\u00ea s\u00f3 constata que isso a\u00ed \u00e9 realmente uma influ\u00eancia.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Acaba ficando parte da sua bagagem.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Claro, isso faz parte. O nordeste apareceu como op\u00e7\u00e3o art\u00edstica pra mim, de desenvolver principalmente a minha t\u00e9cnica, a minha linguagem musical a partir da m\u00fasica do nordeste. Voc\u00ea v\u00ea que todas as pessoas que falei, ou grande parte dessas pessoas com que trabalhei, s\u00e3o nordestinas. Todas essas pessoas estavam no Rio. Quer dizer, eu n\u00e3o sa\u00ed de casa pra encontrar essas pessoas. Por aquelas coincid\u00eancias que n\u00e3o s\u00e3o coincid\u00eancias, essa pessoas apareceram na minha vida, quer dizer, eu fui desenvolvendo essa linguagem toda de &#8220;nordestejo&#8221; ou &#8220;nordestin\u00eas&#8221; ou a maneira nordestina de tocar, de frasear ou de pensar musicalmente. Por causa disso, se tornou, vamos dizer assim, uma coisa que o Luiz Chaves do Zimbo Trio, ao assitir um show meu com o Guinga em Copenhaguem falou: &#8220;Malta, voc\u00ea \u00e9 nordestino e n\u00e3o minta pra mim. Voc\u00ea nasceu, cresceu e se criou l\u00e1 em Recife&#8221;. Eu falei, &#8220;Cara, n\u00e3o \u00e9, isso n\u00e3o \u00e9 verdade&#8221;.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Mas \u00e9 o que a gente ouve na sua m\u00fasica, muito&#8230;<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Eu acho que isso \u00e9 uma quest\u00e3o de eu ter mergulhado, por exemplo, quando eu toco choro, eu sou um chor\u00e3o mas que toca da minha maneira. Amanh\u00e3 voc\u00ea vai me ouvir tocar um choro que \u00e9 um classico que \u00e9 o &#8220;Espinha de Bacalhau&#8221;. Voc\u00ea vai ver como eu apronto um choro. Apronto um choro pra todo mundo chorar junto comigo, cara. Eu n\u00e3o choro sozinho. Todo mundo tem que chorar junto comigo. Eu tenho a minha maneira de tocar, quer dizer, de compreender o acento e a maneira de ser brasileiro. E isso \u00e9 uma coisa que vejo que \u00e9 o que diferencia o m\u00fasico brasileiro, por exemplo, do m\u00fasico americano, do m\u00fasico japon\u00eas, do m\u00fasico espanhol. Quer dizer, \u00e9 justamente aquilo que a gente tem, como vamos dizer, a m\u00fasica a gente usa 3 elementos: o ritmo, a harmonia e a melodia. O ritmo do m\u00fasico brasileiro, se voc\u00ea colocasse assim um encefalograma no m\u00fasico brasileiro, a cabeca dele ia ser assim [ele vocaliza o ritmo de] samba, ent\u00e3o maracatu ou o frevo ou mesmo a valsa, a valsinha de coreto. Quando eu mostrei a grava\u00e7\u00e3o de &#8220;Luz do Sol&#8221; pro Caetano em valsa, cara, correu uma l\u00e1grima. Ele estava gravando <i>Livro<\/i> e quando ele imaginou, antes dele ouvir, eu vi nos olhos dele nadando o que seria &#8220;Luz do Sol&#8221;. Mas ele falou assim, &#8220;como assim 3\/4&#8221;? [Caetano canta &#8220;Luz do Sol&#8221; em 3\/4]. N\u00e3o, ela \u00e9 mais longa assim [Malta canta pro Caetano]. A\u00ed eu pude ver na cara dele que era o compositor, ele falava assim: &#8220;P\u00f4, \u00e9 uma valsa, e eu nunca vi isso&#8221;. Quer dizer, \u00e9 lindo isso a\u00ed. Ele falou: &#8220;Mas voc\u00ea comeu palavras na segunda parte&#8221;. Eu disse n\u00e3o e demonstrei pra ele. Tudinho, t\u00e1 tudo l\u00e1. Eu respeitei isso a\u00ed. Por isso que a m\u00fasica tem essa brincadeira. Quando a gente consegue ser regional da maneira que eu sou assim, eu sou frevo, eu sou bai\u00e3o, eu sou choro, eu sou a valsa braasileira, eu sou um cantador de viola, eu sou essas coisas todas. Dessa maneira eu acredito que vou ser universal. Aonde eu chego, aqui eu vou tocar com o pessoal daqui, n\u00f3s est\u00e1vamos hoje ensaiando, a\u00ed os caras disseram, &#8220;P\u00f4, mas tem pouca indica\u00e7\u00e3o na partitura&#8221;. \u00c9 porque eu aceito a sua sugest\u00e3o. O cara tocou a m\u00fasica inteira e falou, &#8220;O que que eu devo fazer?&#8221; Eu falei: &#8220;T\u00e1 lindo o que voc\u00ea t\u00e1 fazendo&#8221;. \u00c9 uma coisa de refer\u00eancia. O cara vai tocando o neg\u00f3cio e se pergunta, &#8220;O que eu tou fazendo aqui, bicho?&#8221;<\/p>\n<p><b>EL &#8211; O m\u00fasico americano parece estar mais ligado na partitura?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Ele \u00e9 especializado. Eu acho isso bacana. Eu acho isso muito importante. O m\u00fasico brasileiro de uma certa maneira tamb\u00e9m \u00e9 educado da mesma maneira. Eu leio partituras, por exemplo, e consigo organizar uma sinf\u00f4nica com 80 m\u00fasicos tocando aquilo que eu quero. Mas quando eu vou realizar algo assim tipo um trio, eu quero deixar a d\u00favida na cabe\u00e7a do m\u00fasico pra saber que ele vai criar. Se eu colocar tudo muito mastigadinho, ele vai falar, ah, this is easy.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Fica sem criatividade&#8230;<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Fica standard. Eu gosto de criar. Eu cheguei a conclus\u00e3o hoje que poderia ter escrito tudo, mas eu gosto de criar o impasse. Do impasse pinta a luz, cara, pinta uma coisa assim &#8220;e agora&#8221;. E agora fica linda quando pinta aquela ponta de interroga\u00e7\u00e3o no ar. Os caras falam ent\u00e3o que agora eu tenho que botar &#8220;my balls in the game&#8221;. \u00c9 isso ai, bicho, voc\u00ea tem que colocar o seu na reta. Eu acho que a m\u00fasica tem essa caracter\u00edstica maravilhosa que \u00e9, no bom sentido, \u00e9 uma peleja, mas ningu\u00e9m sai perdendo. Todo mundo sai ganhando. Com a m\u00fasica todo mundo sai ganhando. A m\u00fasica n\u00e3o subtrai. Ela sempre soma.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; A sua m\u00fasica tem um elemento de brasilidade que est\u00e1 estampado em tudo, est\u00e1 na cara.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Muitas pessoas dizem que a polca na verdade era a forma do europeu ser transgressor. Com a polca, pela polca. Mozart apareceu, Bach apareceu, Vivaldi apareceu, Pixinguinha apareceu, os m\u00fasicos aqui de Nova Orleans apareceram. Tudo atrav\u00e9s da polca que \u00e9 uma mistura de estilos: dan\u00e7a e m\u00fasica. Assim, quando o corpo precisa, voc\u00ea tem que colocar o cora\u00e7\u00e3o. Por isso a valsa \u00e9 eterna. Por isso o &#8220;Bolero&#8221; de Ravel \u00e9 eterno. Por isso Orfeu e Eur\u00eddice e tudo escrito pro bal\u00e9 s\u00e3o eternos. Isto \u00e9 cl\u00e1ssico. Se voc\u00ea prestar aten\u00e7\u00e3o ao bai\u00e3o, frevo, maracatu e samba &#8212; tudo \u00e9 pra dan\u00e7ar. S\u00e3o eternos.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Voc\u00ea ja tocou com S\u00e9rgio Mendes, Ivan Lins, Leila Pinheiro, Guinga e tantos outros mais. A lista \u00e9 um verdadeiro cat\u00e1logo dos melhores nomes da nossa m\u00fasica. H\u00e1 um nome que voce gostaria de tocar?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Egberto Gismonti. Apesar da gente ter feito in\u00fameras turn\u00eas assim quase juntos &#8212; grupo do Hermeto e grupo do Egberto &#8212; isso a\u00ed seria ideal, poder compartilhar o mesmo palco. O Egberto teve uma influ\u00eancia muito bacana. Antes mesmo de eu come\u00e7ar a tocar com o Hermeto, eu frequentei muito mais concertos do Egberto que concertos do Hermeto. Claro que o Hermeto tocava muito menos no Rio. O Egberto tamb\u00e9m tocava pouco. Hoje em dia todos os dois tocam nada. A cena no Rio est\u00e1 meio estranha. Bom, mas de qualquer maneira, o Egberto sempre teve uma influ\u00eancia muito linda sobre a minha vis\u00e3o de que que eu quero ser: um cara assim que tenha esse carisma no palco de chegar e mandar o recado dele bacana. Mas depois conhecendo o Hermeto e compartilhando com o Hermeto esses 12 anos que tive ali, eu compreendi que ambos s\u00e3o duas coisas parte de uma mesma coisa. O Egberto do senso perfeccionista, o artista e m\u00fasico perfeccionista e o Hermeto tamb\u00e9m perfeccionista, mas o homem da surpresa, o homem da improvisa\u00e7\u00e3o. Quer dizer, eu sinto que tenho muito dos dois na minha musicalidade. Eu sou um grande realizador e um grande improvisador tamb\u00e9m. \u00c9 uma coisa que eu gostaria de ter, assim uma comunh\u00e3o musical com o Egberto. Eu sei que ainda vamos fazer alguma coisa juntos. Eu gosto muito das m\u00fasicas dele. Um outro cara que eu gostaria de trabalhar assim como colaborador profundamente n\u00e3o s\u00f3 tocando na banda, mas escrevendo pra ele, concebendo uma coisa pra ele seria o M\u00edlton Nascimento. \u00c9 um cara que formou a minha m\u00fasica desde menino. O M\u00edlton tamb\u00e9m eu j\u00e1 tive oportunidade de gravar faixas com ele em disco do Edu Lobo, por exemplo, como membro de orquestra. Mas eu gostaria muito at\u00e9 de produzir um disco do M\u00edlton e fazer o M\u00edlton cantar com outros ventos, acompanhados por outros ventos. Eu acho que a voz dele \u00e9 feita da mesma coisa que o meu som \u00e9 feito. \u00c9 uma coisa assim muito parecida. Eu escuto ele h\u00e1 muitos anos. E tudo que escutei dele entrou na minha cabe\u00e7a e nunca saiu. Na verdade, &#8220;O Mergulho da Sereia&#8221; era pra ele ter gravado. A gente mandou uma fita pra ele, mas ele estava numa \u00e9poca de sa\u00fade muito estranha. A gente preferiu respeitar e esperar.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; A prop\u00f3sito sobre &#8220;O Mergulho da Sereia&#8221;, \u00e9 uma das faixas do CD bem diferente das demais composi\u00e7\u00f5es.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; \u00c9 da Ana Maria [Malta]. Ali foi uma coisa assim muito linda porque eu pensei nessa m\u00fasica e a harmonizei muitos anos atr\u00e1s. Ela comp\u00f4s essa m\u00fasica h\u00e1 muito tempo atr\u00e1s da mesma forma como ela comp\u00f4s &#8220;Jeitinho Brasileiro&#8221;, assim cantando num gravador pequeno. Eu pego a fita e vou harmonizando e tal. Eu tava na Su\u00ed\u00e7a na casa do Daniel Pezzotti enquanto fazia uma turn\u00ea. Eu peguei a m\u00fasica de noite e passei a noite trabalhando nela, terminando de manh\u00e3zinha. Foi uma sensa\u00e7\u00e3o muito boa fazer aquela harmonia ali. Quando mostrei pra ela, ela gostou muito. A gente pensou em produzir uma coisa com orquestra no est\u00fadio. Eu pensei em que poderia chamar que seria uma &#8220;orquestra&#8221;. Fernando Moura foi o nome. Fernando Moura \u00e9 uma orquestra de teclados. Tem um som pro lance que voc\u00ea precisa. Ele recebeu a fita e ficou encantado e a gente pensou no M\u00edlton pra colocar a voz, dobrando esse soprano. Um dia vai ser. Essa m\u00fasica est\u00e1 guardada pra ele. Ser\u00e1 incr\u00edvel. Essa m\u00fasica \u00e9 a chave do disco no sentido de astral. Ele vem numa hora precisa. A\u00ed vem a m\u00fasica do Guinga no momento em que voce est\u00e1 relaxando. Ali\u00e1s esse disco foi feito assim com uma ordem bem pensada. O <i>Escultor do Vento<\/i> \u00e9 uma est\u00f3ria.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Como foi que partiu a id\u00e9ia do Pife Muderno?<\/b><\/p>\n<figure class=\"thumbnail wp-caption alignleft\" style=\"width: 343px\"><img data-recalc-dims=\"1\" loading=\"lazy\" decoding=\"async\" alt=\"Malta e pife\" src=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/malta2.jpg?resize=343%2C271&#038;ssl=1\" width=\"343\" height=\"271\" \/><figcaption class=\"caption wp-caption-text\">Nos est\u00fadios da r\u00e1dio WWOZ<\/figcaption><\/figure>\n<p>CM &#8211; Cara, o Pife Muderno partiu verdadeiramente quando fui roubado. Uma est\u00f3ria bem brasileira. Outro jeitinho brasileiro. A gente vivia na Urca, assim que sa\u00ed do grupo do Hermeto. Estava pra fazer o trabalho do <i>Rainbow<\/i>. Tinha ido pra Su\u00ed\u00e7a gravar com o Daniel. Fui roubado no 4 de julho. Ent\u00e3o, bicho, foi um neg\u00f3cio estranho. Entraram na minha casa e roubaram saxofone alto, bar\u00edtono, tenor, soprano, flauta, flautim, enfim tudo. Deixaram a gente pelado, literalmente pelado. A\u00ed deixaram uns p\u00edfanos. P\u00f4, d\u00e1 pra gente fazer uma banda de p\u00edfanos. A necessidade \u00e9 a m\u00e3e da cria\u00e7\u00e3o! P\u00f4, cara, seria engra\u00e7ado. Como \u00e9 que eu seria tocando numa banda de p\u00edfanos? Eu falei, p\u00f4, seria uma pife bastante moderno, maluco pra cacete.<\/p>\n<p>E a\u00ed, isso ficou na cabe\u00e7a de algum jeito. Bom, eu recuperei os instrumentos. Foi tudo maravilhoso. Prenderam os ladr\u00f5es. A pol\u00edcia carioca funcionou maravilhosamente e tudo mais. Bom, e o Pife Muderno nasceu em 94. Na verdade nasceu um pouquinho depois disso a\u00ed quando a gente tinha uma encomenda do Centro Cultural da Light que tava abrindo. Ent\u00e3o, eu falei, monta dois projetos: o Coreto Urbano e o Pife Muderno. Ali nasceram essas duas gl\u00f3rias da minha vida. Eu acho que \u00e9 um privil\u00e9gio ter essa rapaziada tocando comigo assim. \u00c9 gente que quando falo assim &#8220;tem show&#8221;, eles dizem, &#8220;vamos s&#8217;imbora&#8221;! \u00c9 maravilhoso. \u00c9 gente de primeira linha. Quando um n\u00e3o pode, sempre tem outro. H\u00e1 o Coreto 1 e Coreto 2 e o Pife 1 e Pife 2.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; E o <i>Jeitinho Brasileiro<\/i> ou <i>O Escultor do Vento<\/i>?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Esse foi um trabalho de continuidade que desenvolvi a partir do Hermeto. Quer dizer, como m\u00fasico, mas agora como arranjador, compositor e produtor e idealizador de um universo sonoro. Eu coloquei assim um sampler da minha paleta de sons. Eu escrevo pra cordas, percuss\u00e3o, quarteto saxof\u00f4nico, pra vozes. Eu mostro ali uma capacidade de arranjador que as pessoas n\u00e3o sabiam que eu tinha. E tamb\u00e9m uma coisa de composi\u00e7\u00e3o que as pessoas n\u00e3o sabiam que eu tinha, n\u00e9. Essa \u00e9 a minha liga\u00e7\u00e3o maior do<i> Jeitinho Brasileiro<\/i>. Mostrar um pouco mais e dar continuidade do que j\u00e1 tinha mostrado com o Hermeto, quer dizer, o instrumentista.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Fala um pouco de &#8220;Morena Bela&#8221;. \u00c9 um arranjo maravilhoso.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Na verdade, voc\u00ea sabe que esse arranjo do &#8220;Morena Bela&#8221; a gente tava fazendo um show no CCBB com o Lenine como convidado. Era uma homenagem ao Jackson do Pandeiro. &#8220;Morena Bela&#8221; [ele canta a introdu\u00e7\u00e3o]: &#8220;Morena bela, eu era, eu sou. Morena bela eu serei o teu amor&#8221;. Eu estava voltando de carro pra um ensaio l\u00e1 no CCBB e tive a id\u00e9ia de um clima como &#8220;Stairway to Heaven&#8221;. Sacou? Se voc\u00ea pensar nisso ao ouvir o arranjo, voc\u00ea vai sacar o que quero dizer. Porque \u00e9 um dueto de flautas como em &#8220;Stairway to Heaven&#8221;. Justamente pra mim, \u00e9 assim uma coisa que defino voc\u00ea ter uma morena bela assim na sua vida assim como eu tenho, meu irm\u00e3o ,\u00e9 bom demais. Eu tava justamente voltando pra minha morena bela, voltando pra casa e a\u00ed pra fazer uma m\u00fasica. Essa m\u00fasica eu gravei com esse intuito.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; O Lenine com aquele sotaque pernambucano, &#8220;come on, everybody&#8221;, ningu\u00e9m resiste.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Aquilo ali \u00e9 uma brincadeira, uma brincadeira muito sadia. A gente pegou e eu falei pro Lenine que ele \u00e9 um sampler humano. Ent\u00e3o eu vou apertar umas teclas ali e vamos soltar, samplear. A gente tem essa cumplicidade musical h\u00e1 mais de 20 anos. A gente se conheceu l\u00e1 na casa do Paulinho, o pianista do Arranco de Vars\u00f3via. Foi assim como se estiv\u00e9ssemos feito um pacto. Assim como, aonde rolar um, o outro tamb\u00e9m rola. E fomos embora. Desde ent\u00e3o, naquela \u00e9poca eu comecei a tocar com o Hermeto. Quinze anos sem ver o Lenine. A\u00ed quando me encontrei com ele a gente gravou juntos em<i> Olho de Peixe<\/i>, <i>Jeitinho Brasileiro<\/i> [o t\u00edtulo de <i>Escultor do Vento<\/i> no mercado norte-americano], <i>O Dia em que Faremos Contato<\/i>. Agora at\u00e9 no <i>Na Press\u00e3o<\/i>.<\/p>\n<figure id=\"attachment_4069\" class=\"thumbnail wp-caption alignleft\" style=\"width: 372px\"><a href=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/cmjeitinho.jpg?ssl=1\"><img data-recalc-dims=\"1\" loading=\"lazy\" decoding=\"async\" data-attachment-id=\"4069\" data-permalink=\"https:\/\/musicabrasileira.org\/carlos-malta-jeitinho-brasileiro\/cmjeitinho\/\" data-orig-file=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/cmjeitinho.jpg?fit=372%2C380&amp;ssl=1\" data-orig-size=\"372,380\" data-comments-opened=\"0\" data-image-meta=\"{&quot;aperture&quot;:&quot;0&quot;,&quot;credit&quot;:&quot;&quot;,&quot;camera&quot;:&quot;&quot;,&quot;caption&quot;:&quot;&quot;,&quot;created_timestamp&quot;:&quot;0&quot;,&quot;copyright&quot;:&quot;&quot;,&quot;focal_length&quot;:&quot;0&quot;,&quot;iso&quot;:&quot;0&quot;,&quot;shutter_speed&quot;:&quot;0&quot;,&quot;title&quot;:&quot;&quot;}\" data-image-title=\"cmjeitinho\" data-image-description=\"\" data-image-caption=\"\" data-medium-file=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/cmjeitinho.jpg?fit=372%2C380&amp;ssl=1\" data-large-file=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/cmjeitinho.jpg?fit=372%2C380&amp;ssl=1\" class=\"size-full wp-image-4069\" alt=\"Jeitinho Brasileiro\" src=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/cmjeitinho.jpg?resize=372%2C380&#038;ssl=1\" width=\"372\" height=\"380\" \/><\/a><figcaption class=\"caption wp-caption-text\">O Escultor do Vento no mercado norte-americano<\/figcaption><\/figure>\n<p>Eu fiz um arranjo muito lindo num samba dele que homenageia o cinema brasileiro. Eu coloquei o Coreto Urbano nessa letra linda que faz um trocadilho com nomes de filmes brasileiros. E por a\u00ed vai. Ele \u00e9 compositor do bloco Suvaco de Cristo, um bloco tradicional do Rio de Janeiro h\u00e1 uns 15 ou 16 anos. Eu gostei muito do resultado. T\u00e1 muito bacana o trabalho. Agora vamos pra Fran\u00e7a fazer um show com o Caetano num projeto chamado Carte Blanche. O Caetano mostra o que quiser mostrar da m\u00fasica brasileira, da arte brasileira. Vai estar o Augusto de Campos, Lenine, eu e o Marquinho Lobo (n\u00e3o o Suzano) fazendo alguma coisa do <i>Olho de Peixe<\/i> e do trabalho novo do Lenine [o <i>Na Press\u00e3o<\/i>, na \u00e9poca da entrevista]. Vai ser legal pra caramba. Tem muita coisa boa acontecendo no Brasil. Apesar da economia n\u00e3o querer. Mas parece que a economia n\u00e3o tem muito a ver com a m\u00fasica. Quanto mais a m\u00fasica vai pra frente, a economia vai pra tr\u00e1s.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Como voc\u00ea reconcilia a grava\u00e7\u00e3o no est\u00fadio com uma apresenta\u00e7\u00e3o ao vivo?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Rapaz, olha, \u00e9 uma coisa muito doida. Cada coisa \u00e9 uma coisa. Mas a duas s\u00e3o as mesmas coisas. Por exemplo, quando voc\u00ea \u00e9 chamado pra uma se\u00e7\u00e3o de est\u00fadio como no <i>Livro<\/i> do Caetano com tudo escrito, a gente tem que ter uma atitude completamente submissa ao arranjador pra ele ter de voc\u00ea aquilo que ele quer na partitura. Tem que ser fiel a partitura, a menos que seja um solo. Num solo voc\u00ea tem mais liberdade pra isso. Quando voc\u00ea vai pro palco, voc\u00ea tem que ter essa mesma coer\u00eancia, essa mesma visao. S\u00f3 que no palco n\u00e3o tem como fazer de novo. \u00c9 sempre show time. Eu acho que particularmente eu sou um amante do palco. \u00c9 uma coisa que eu realmente tenho uma predile\u00e7\u00e3o pela performance ao vivo. Se me perguntassem o que preferiria, se trabalhar em est\u00fadio ou s\u00f3 no palco, eu preferiria trabalhar s\u00f3 no palco. Justamente por isso: eu sou um m\u00fasico que trabalha com a cria\u00e7\u00e3o, qualquer coisa que acontecer, eu aproveito. Essa coisa do est\u00fadio n\u00e3o existe, n\u00e3o tem. Sou m\u00fasico de palco, do momento, da hora. Mas eu sou bom de estudio tamb\u00e9m. Fico horas a fio no estudio. Ja peguei gravacoes assim como a trilha sonora de <i>Tieta<\/i> que demorou \u00e0 bessa pra fazer. As sess\u00f5es eram longas com muito material pra gravar num curto tempo. O \u00faltimo dia da grava\u00e7\u00e3o eu sa\u00ed de manh\u00e3. Era como as grava\u00e7\u00f5es do Hermeto. Elas eram muito longas tamb\u00e9m. Eram intensas e que exigem muito. Mas eu gosto desse tipo de desafio. A gente n\u00e3o tem que negar um desafio.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Agora voc\u00ea est\u00e1 fazendo o seu trabalho como quer? <\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Exatamente, agora estou completamente envolvido com isso. Por exemplo, quando a Gal me chamou pra gravar no disco dela. Eu sempre tive grande carinho por ela, curti muito ela. Agora a gente se aproxima mais por e-mail, &#8220;emailando&#8221;. Pra mim foi lindo escrever um arranjo pra ela. A Gal como cantora sempre teve essa vis\u00e3o vanguardista como cantora. Ela lan\u00e7ou grandes arranjadores. Debaixo da voz dela apareceram Lincoln Olivetti, Jacquinho mesmo, v\u00e1rios caras. At\u00e9 mesmo voltando aquele papo de quem eu gostaria de trabalhar um dia, seria poder fazer uma dire\u00e7\u00e3o musical assim prum show dela. Eu montaria um show muito bacana com m\u00fasica de gafieira, m\u00fasica de big band acompanhando a Gal. A Gal tem um grande approach pra crooner. Eu sonho forte e alto o bastante pra gente realizar isso e deixar ela cantar aquilo que ela quiser cantar. Acho que ela \u00e9 a cantora pra fazer isso. Ela pode duelar com qualquer instrumento de uma big band e fazer um som assim que ningu\u00e9m nunca ouviu. A Gal tem essa possibilidade. N\u00e3o s\u00f3 o alcance, mas o senso de coloca\u00e7\u00e3o, o senso de consci\u00eancia no que ela projeta com a voz dela. Bom, fica a\u00ed ent\u00e3o o registro hoje, 19 de abril de 1999. \u00c9 uma data m\u00e1gica. Acho que vou at\u00e9 mandar um email pra ela. Eu amo muito a voz dela. Ela \u00e9 uma artista \u00edmpar. Assim como foi a Elis Regina. O Brasil tem esse privil\u00e9gio de mulheres boas cantoras. A arte de cantar n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 uma maneira de ganhar dinheiro.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Voc\u00ea tamb\u00e9m colocou uns vocais em<i> Jeitinho Brasileiro<\/i>.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Bom aqui vai mais outro desejo. Eu botei as minhas manguinhas de for ali no &#8220;Paradindonde&#8221;. N\u00e3o decepciono. Tambem no &#8220;Camale\u00e3o&#8221; eu fa\u00e7o um vocalise. Eu tenho assim uma gana de fazer uma coisa cantando, produzir um disco dessa maneira. Seria um disco assim sui generis, muito cl\u00e1ssico. Um cara que eu admiro muito \u00e9 o Chet Baker, uma voz tranquila. Acho que eu faria um disco assim cantando samba-can\u00e7\u00e3o, baladas brasileiras. N\u00e3o seria nada pretencioso de &#8220;Ah, cantor!&#8221; Mas uma coisa pela vontade gostosa de cantar. Acho muito gostoso cantar. Sou um cantor de banheiro. \u00c9 muito interessante essa possibilidade do que a gente pode fazer com a voz. Eu teria que me preparar e seria um desafio. N\u00e3o seria pra amanh\u00e3, mas quero muito fazer isso.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Al\u00e9m da Gal, quem mais? O Brasil tem, como voc\u00ea disse, muitas cantoras. Quais os cantores ent\u00e3o?<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Eu gostei muito de trabalhar com o Em\u00edlio. Ele tem um approach muito legal. Ele tem um tenor e bar\u00edtono na garganta muito bem trabalhado. Musicalmente ele tem uma voz que ali\u00e1s influencia a mim como m\u00fasico. Essa languidez da voz que existiu na Billie Holiday e Elis Regina e agora a Gal e a pr\u00f3pria Jane Duboc e Leila Pinheiro. S\u00e3o vozes que ficam na minha alma musical. A voz da minha pr\u00f3pria mulher, a Ana, \u00e9 linda pra caramba. A gente tinha um trio que eu chamava Trio Calafrio: Hermeto no piano, ela cantando e eu soprando. Era uma pancadaria incr\u00edvel. A gente se encontrava duas vezes por semana \u00e0s 11 da manh\u00e3 na casa do Hermeto. A gente fazia assim cerca de uma hora e meia por sess\u00e3o. Ele comp\u00f4s umas cinco m\u00fasicas nessa \u00e9poca. Um dia eu brincando falei assim que quando esse grupo fosse tocar pela primeira vez, a gente estaria desempregado. Eu e minha boca grande! J\u00e1 j\u00e1 a id\u00e9ia acabou. O trio continou a rolar, mas a\u00ed for\u00e7as ocultas n\u00e3o sei o qu\u00ea, t\u00e1 t\u00e1 t\u00e1 [ele canta as notas inicias da 5a de Beethoven]. Tudo certo, tudo lindo e maravilhoso. Ela continua cantando, produzindo e compondo. Por exemplo, o &#8220;Barrigada&#8221; que o Pedro Lu\u00eds gravou no Pife Muderno \u00e9 maravilhoso. \u00c9 lindo voc\u00ea poder lidar com uma voz assim t\u00e3o intuitiva. \u00c9 o que falo pros alunos nessas oficinas. Se voc\u00ea n\u00e3o conseguir cantar aquilo que voc\u00ea quer tocar, voc\u00ea n\u00e3o vai conseguir tocar aquilo que quer ouvir. Canta pelos menos ritimicamente. Voc\u00ea tem que externar aquilo sem o instrumento. O instrumento \u00e9 o instrumento. Se voc\u00ea n\u00e3o tiver isso concebido na sua cabeca, n\u00e3o vai sair nada no instrumento.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; Ali\u00e1s esse ritmo \u00e9 mais f\u00e1cil pro brasileiro pois ele n\u00e3o se importa tanto em ser perfeito.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Mas \u00e9 a\u00ed que eu acho que mora a perfei\u00e7\u00e3o, cara. A perfei\u00e7\u00e3o, j\u00e1 dizia o Gil, \u00e9 uma meta defendida pelo goleiro que joga na sele\u00e7\u00e3o. O universo est\u00e1 em busca da perfei\u00e7\u00e3o. O homem, assim com o universo, deve buscar essa perfei\u00e7\u00e3o. Justamente pela busca de uma coisa melhor \u00e9 que a perfei\u00e7\u00e3o n\u00e3o existe. A perfei\u00e7\u00e3o \u00e9 voc\u00ea conseguir o m\u00e1ximo daquele momento, mesmo que ele seja um caos.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; \u00c9 a espontaneidade&#8230;<\/b><\/p>\n<p><img data-recalc-dims=\"1\" loading=\"lazy\" decoding=\"async\" class=\"alignright\" alt=\"Malta em NO\" src=\"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/malta4.jpg?resize=395%2C276&#038;ssl=1\" width=\"395\" height=\"276\" \/><\/p>\n<p>CM &#8211; \u00c9, a m\u00fasica \u00e9 uma das artes que melhor concentra e consegue harmonizar a manifest\u00e1\u00e7\u00e3o da espontaneidade. O teatro de uma certa forma tamb\u00e9m. O cinema ele retrata isso em movimento. A fotografia guarda isso pra sempre naquele momento. A pintura, tamb\u00e9m, guarda aquele momento pra sempre atrav\u00e9s da interpreta\u00e7\u00e3o de cada um. Mas eu acho que a m\u00fasica tem essa propriedade. Voc\u00ea pode tocar a mesma m\u00fasica cinco vezes e cada vez voc\u00ea vai extrair um sentimento diferente dela. Nesse ponto a m\u00fasica \u00e9 \u00fanica e inigual\u00e1vel. N\u00e3o \u00e9 porque eu seja m\u00fasico. Nenhuma outra arte vai conseguir uma gama t\u00e3o grande de interpreta\u00e7\u00f5es a respeito de uma mesma fonte.<\/p>\n<p><b>EL &#8211; \u00c9 multidimensional. A fotografia \u00e9 bi-dimensional assim como a pintura.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; \u00c9 isso a\u00ed. Sempre vai acabar em duas opini\u00f5es: amei ou odiei. A m\u00fasica \u00e9 o que melhor traduz o som e o sil\u00eancio. Tudo \u00e9 em dois. Pra haver o som tem que haver o sil\u00eancio. E pra ter o porque do sil\u00eancio tem que haver o som. Tudo \u00e9 em dois. Existe o nada e depois veio o tudo. Estamos fazendo uma pororoca musical. A m\u00fasica est\u00e1 l\u00e1 no disco. \u00c9 como falei, o disco \u00e9 uma foto. No show live voc\u00ea vai ouvir o momento que nunca vai ser igual.<\/p>\n<blockquote><p><i>O pianista hoje durante o ensaio tocou &#8220;Espinha de Bacalhau&#8221;. Ele tocou a m\u00fasica e improvisou. Quando ele acabou de tocar a m\u00fasica, ele perguntou: Which tonality were we? (Que tom a gente tocou?) Eu respondi, We were supposed to be in F. It&#8217;s a kind of F. (\u00c9ramos para estar tocando em f\u00e1. Bom um tipo de f\u00e1.) Maravilhoso&#8230;<\/i>(Carlos Malta)<\/p><\/blockquote>\n<p><b>EL &#8211; A sua grava\u00e7\u00e3o de &#8220;Carinhoso&#8221; \u00e9 uma abertura de ouro pro<i> Jeitinho Brasileiro<\/i>.<\/b><\/p>\n<p>CM &#8211; Rapaz, quando eu ouvi a vers\u00e3o masterizada, eu tive a confirma\u00e7\u00e3o da ben\u00e7\u00e3o do mestre Pixinguinha. Eu respeito muito isso. No ano que eu estava fazendo esses concertos do centen\u00e1rio do Pixinguinha, n\u00f3s tocamos uma m\u00fasica dele, uma valsa chamada &#8220;Dininha&#8221; que ainda vem por a\u00ed num grava\u00e7\u00e3o com o Quarteto Guerra-Peixe. A gente estava no SESC paulista. Quando eu anunciei a m\u00fasica, desceu um papel azul colorido da luz. Eu falei assim, &#8220;acho que ela est\u00e1 agradecendo a homenagem, ou ele&#8221;. O pessoal comecou a rir. Foi algo assim muito bonito e estranho. Acho que tenho um la\u00e7o eterno com o Pixinguinha. Ele morreu mais ou menos na \u00e9poca que eu comecei a tocar. Ent\u00e3o de alguma forma eu sinto que peguei o bast\u00e3o. Sinto que ele est\u00e1 passando o bast\u00e3o. Eu vou um pouquinho mais al\u00e9m com esse bast\u00e3o que ele correu tanto tempo. Ele, Radam\u00e9s Gnatalli, o pr\u00f3prio Hermeto a quem servi esses 12 anos. A essas pessoas vai ser sempre lindo a gente pegar o bast\u00e3o e correr um bocado e passar o bast\u00e3o de voltar pra eles. \u00c9 como o Villa Lobos. Ele vai correr sempre com o m\u00fasico brasileiro. Seja l\u00e1 qual for o tempo. Ele foi um educador, um disciplinador atrav\u00e9s da m\u00fasica. Ele colocou 40 mil crian\u00e7as num est\u00e1dio de futebol cantando m\u00fasicas ind\u00edgenas que ele arranjou especialmente pra essa ocasi\u00e3o. Era uma sujeito que acreditava na educa\u00e7\u00e3o da humanidade atrav\u00e9s da m\u00fasica. E atrav\u00e9s disso, acreditando nisso, ele se tornou um brasileiro universal. A\u00ed est\u00e1 a li\u00e7\u00e3o que o Tom Jobim aprendeu, que o Edu Lobo aprendeu, o Hermeto aprendeu, eu estou aprendendo. Assim existem muitos que est\u00e3o seguindo essas pegadas do Villa Lobos, Pixinguinha, do Joaquim Callado. O Callado foi o flautista precussor do choro. Eu o considero uma das pessoas mais importantes, se n\u00e3o a mais importante. Ele influenciou grandes realizadores. Callado pode n\u00e3o ter sido o que realizou de fato no papel, mas a atitude musical dele retrata isso a\u00ed. S\u00e3o pessoas que conseguiram deixar um nome. O Callado \u00e9 a corrente musical da intui\u00e7\u00e3o, aquela que n\u00e3o ficou registrada nas bibliotecas nem nas discotecas e editorias de m\u00fasica. \u00c9 justamente aquilo que ficou no inconsciente coletivo. \u00c9 aquilo que o Alceu Valenca fala no disco do Pife Muderno: &#8220;A m\u00fasica tamb\u00e9m tem genealogia, n\u00e3o nasce de uma gera\u00e7\u00e3o espontanea. Ela est\u00e1 presente nos arqu\u00e9tipos, nos \u00edcones, nos mitos e no inconsciente coletivo de um povo&#8221;. Eu acho que o Joaquim Callad o\u00e9 como se fosse um Robin Hood, um Rei Artur da m\u00fasica popular brasileira. Ele promoveu a polca e da polca ele extraiu um crossover do choro, da s\u00edncopa. Foi ele que sincopou a polca. Ele botou uma cintura na jogada. O Callado \u00e9 uma das nossas grandes fontes de inspira\u00e7\u00e3o. Como ele, eu talvez esteja passando assim o bast\u00e3o musical dele como um transgressor das normas musicais. O Pife Muderno \u00e9 um exemplo disso a\u00ed. \u00c9 um exemplo de como voc\u00ea pode ser sutil e n\u00e3o precisa seguir realmente todas as regras da teoria musical pra estabelecer uma concep\u00e7\u00e3o musical. Na verdade a gente at\u00e9 transgride algumas numa boa abertamente e com todo o bom humor. Mas o resultado \u00e9 que importa. As pessoas adoram. Elas n\u00e3o pensam que aquilo ali \u00e9 um jogo de quintas paralelas que se seguem. Desde que se tenha bom gosto e a inten\u00e7\u00e3o de entreter musicalmente, isso funciona. A m\u00fasica tem que ter essa propriedade. Voc\u00ea descobre cada vez coisas mais novas e mais lindas. Muito mais importante do que o m\u00fasico ser apreciado por aquilo que ele toca muito bem \u00e9 a m\u00fasica que ele traz com ele. Ele tem que ser um servo da m\u00fasica. O m\u00fasico tem que atuar como m\u00fasico assim como um ator atua sobre um texto. Eu acredito mais naquele m\u00fasico que conta uma est\u00f3ria que demonstra que uma m\u00fasica \u00e9 boa. Esse \u00e9 o contexto que eu optei.<\/p>\n<p>&nbsp;<\/p>\n[Para os interessados, eu escrevi uma <a href=\"http:\/\/musicabrasileira.org\/carlos-malta-jeitinho-brasileiro\/\">resenha sober\u00a0<em>O Escultor dos Ventos<\/em><\/a> (ou\u00a0<em>Jeitinho Brasileiro<\/em>, como foi chamado o CD no mercado norte-americano). A resenha \u00e9 em ingl\u00eas e est\u00e1 aqui.]\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"<p>Carlos Malta fala sobre\u00a0O Escultor do Vento &nbsp; H\u00e1 algum tempo atr\u00e1s, em uma das apresenta\u00e7\u00f5es que Carlos Malta fez em Nova Orleans, eu tive o prazer de acompanh\u00e1-lo a ensaios, oficinas, programas de r\u00e1dio e shows na ativa vida &hellip; <a href=\"https:\/\/musicabrasileira.org\/carlos-malta-entrevista\/\">Continued<\/a><\/p>\n","protected":false},"author":11,"featured_media":4063,"comment_status":"closed","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"nf_dc_page":"","kt_blocks_editor_width":"","jetpack_post_was_ever_published":false,"_jetpack_newsletter_access":"","_jetpack_dont_email_post_to_subs":false,"_jetpack_newsletter_tier_id":0,"_jetpack_memberships_contains_paywalled_content":false,"_jetpack_memberships_contains_paid_content":false,"footnotes":"","jetpack_publicize_message":"Carlos Malta Entrevista http:\/\/wp.me\/p3wcV8-13f","jetpack_publicize_feature_enabled":true,"jetpack_social_post_already_shared":true,"jetpack_social_options":{"image_generator_settings":{"template":"highway","enabled":false},"version":2}},"categories":[43],"tags":[70],"class_list":["post-4045","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-interview","tag-carlos-malta"],"jetpack_publicize_connections":[],"jetpack_featured_media_url":"https:\/\/i0.wp.com\/musicabrasileira.org\/WordPress\/wp-content\/uploads\/2013\/07\/malta1.jpg?fit=250%2C220&ssl=1","jetpack_sharing_enabled":true,"jetpack_shortlink":"https:\/\/wp.me\/p3wcV8-13f","jetpack-related-posts":[],"jetpack_likes_enabled":true,"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4045","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/users\/11"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=4045"}],"version-history":[{"count":3,"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4045\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4054,"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/4045\/revisions\/4054"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/media\/4063"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=4045"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=4045"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/musicabrasileira.org\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=4045"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}