Waldemar Henrique: Uma Biografia

Uma Biografia

Waldemar Henrique

 

 

Waldemar Henrique

 

Waldemar Henrique da Costa Pereira

Belém-PA, 15/2/1905 – 28/3/1995

 

 

 

 

 

 

Waldemar Henrique da Costa Pereira (Belém, PA, 15/02/1905 – 28/03/1995), pianista e compositor, passou sua infância na cidade de Porto, Portugal. Voltou-se para a música quando retornou ao Brasil (apesar da forte oposição da família. O que o fez, de certa forma, a estudar clandestinamente). Em Belém, em 1918, estudou solfejo e piano com Nicota de Andrade. Estudou também violino, harmonia, composição e canto.

“Minha Terra”, composta em 1923, foi sua primeira música de sucesso. Estudou no Conservatório Carlos Gomes, em 1929, tendo como professores Filomena Brandão e Ettore Bosio (harmonia e composição), e Beatriz Simões (piano). Ainda nesta época, seu pai insistiu, mais uma vez, com que se desviasse de sua vocação, empregando-o num banco.

No Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1933, estudou piano, composição, orquestração e regência com Barroso Neto, Newton Pádua, Arthur Bosmans, Lorenzo Fernandez. Suas obras têm principalmente como tema o folclore amazônico, indígena, nordestino e afro-brasileiro (elementos praticamente desconhecidos, ate que Gastão Formenti os gravasse na Victor). Rádios, teatros e cassinos do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte foram os locais de sua maior atuação, tendo excursionado por todo o Brasil e pelo exterior (Argentina, Uruguai, França, Espanha e Portugal).

Sua irmã, a cantora Mara Costa Pereira (Mara Henrique Ferraz) (1916-1975) acompanhava-o sempre em suas apresentações. No Rio de Janeiro, além de professor, produziu programas para várias emissoras; na Rádio Roquete Pinto foi diretor da seção de música orquestral. Comissionado pelo Itamaraty, excursionou pela França, Espanha e Portugal, em 1949 e em 1955, e pelo Paraguai, Uruguai e Argentina, em 1953 a 1954. Apesar da sedimentação de sua carreira, seu primeiro disco foi gravado somente em 1956, com interpretação vocal de Jorge Fernandes. É autor da primeira versão musical de “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto (1958), poema dramático premiado pelo Jornal do Comércio. Por mais de 10 anos, o compositor dirigiu o Teatro da Paz, de Belém, PA.

Trabalhou no Departamento de Cultura e no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, RJ. O livro “Waldemar Henrique: o canto da Amazônia”, de José Claver Filho, foi publicado pela Funarte, em 1978 (vol. 2, da Coleção MPB).

Em 1981 foi eleito para a Academia Brasileira de Música.

Belém homenageou Waldemar Henrique em um desfile de escola de samba, em 1985, quando o compositor completava 80 anos. Compôs mais de 120 canções, das quais pode-se citar “Abalogum”, “Abaluaiê”, “Adeus”, “Boi-Bumbá”, “Cabocla Malvada”, “Coco penuruê”, “Curupira”, “Cobra grande”, “Essa Negra Fulô”, “Matintaperera”, “Meu Boi Vai-se Embora”, “Meu Último Luar”, “No Jardim de Oeira”, “Uirapuru”.

Sobre Tamba-tajá

Tamba-tajáTamba-tajá, uma das composições mais expressivas de Waldemar Henrique, faz parte do chamado Ciclo das Lendas Amazônicas, que possui, no total, onze números. É uma espécie de oração que aparece como tema central da planta amazônica Tamba-tajá, considerada sagrada pelos índios da região, pela lenda que envolve, segundo a qual um índio macuxi carregava sempre às suas costas uma índia paralítica, por quem era perdidamente apaixonado. Certa vez, os dois foram surpreendidos por uma tribo inimiga, sendo perseguidos. Escaparam, refugiando-se em um igarapé, quando o índio percebeu que sua amada havia morrido. Não vendo mais sentido em continuar a viver, fez uma cova e enterrou-se juntamente com seu grande amor. Dias depois, em noite de lua cheia, nasceu no lugar o Tamba-tajá.

Tamba-tajá e Uirapuru tornaram-se conhecidas por milhares de brasileiros, a partir do advento do canto orfeônico, que foi responsável pela transformação de boa parte das canções de Waldemar Henrique em arranjos corais largamente difundidos.

Carimbó (1932) Carimbó

A festa vai alta… No céu todo estrelado Uma voz soluçante Enleia a solidão. Deixo a cidade Me aproximo do sertão E vejo numa clareira Um bando de negros Em roda de uma fogueira Dançando batuques de banzo Assim: “ Bate bumbo de urucungo Olha urucungo bate bumb’êh” “ Sinhá de Luanda Ttem fé no cantar Me leva pra Umbanda Nas ondas do mar” Tem pena, tem pena, Tem pena de mim, Sinhá de Luanda, oi! Tem pena de mim, Sinhá de Luanda, oi! Me pega, me solta, me torna a pegá, Sinhá de Luanda, oi! Me deixa dançar – Sinhá de Loanda, oi!

O último texto

“Música… minha predileção, meu achado, minha fantasia, meu rumo. Sempre fui guiado pelos sons: o apito de um navio, o badalar de um sino, o toque de um tambor, a ressonância de uma voz humana. Fôsse pingo d’água ou assobio, cigarra ou trovão, inverno ou primavera, outono ou verão. Mãos acenando, chegando ou partindo, abraços e beijos, sorrisos e lágrimas.”

Fonte de referência para este texto:”Enciclopédia da Música Brasileira” – Editora Publifolha, 1999.

 


 

Para conhecer melhor Waldemar Henrique (todos em CD):

    • Radamés Gnattali e Waldemar Henrique, com Orquestra de Câmara de Blumenau e Joel Nascimento – Atração Fonográfica (ATR 32045), 1998 (relançamento ao vinil promocional da BASF – 006, de 1986).
    • Waldemar, com Nilson Chaves e Vital Lima (OBR- 003) – Outros Brasis, 1994.
    • Canto da Amazônia, Projeto Uirapuru vol. 2 – Maria Helena Coelho Cardoso, PA 0010, Secult-PA, 1997.
    • Amazônia é Brasil – Turibio Santos e Carol McDavit, Secult-PA, 1999.
    • O Poeta e seu Canto – João de Jesus Paes Loureiro, Secult-PA, 1999.
    • Pássaro da Terra – Peça de João de Jesus Paes Loureiro Musicada por Waldemar Henrique, Escritura, 1999.
    • Fiz da Vida uma Canção… – Andréa Pinheiro canta Waldemar Henrique, Secult-PA, 2001.
    • A Música e o Pará – Arthur Moreira Lima Interpreta Waldemar Henrique, Secult-PA.