Talento para Esbanjar!
Quem é Idilva Germano? Além de ser formada em psicologia e ter também feito doutorado em sociologia, esta talentosa cantora cearense iniciou sua trajetória musical em 1988 com o show “Becos do Coração”, uma produção do teatro local em Fortaleza. Em 1989, ela se apresentou também no Pirata Bar com o show “Café e Cointreau”. Outros shows continuaram no decorrer dos anos e vieram a solidificar o seu nome no cenário musical cearense. Suas apresentações sempre foram marcadas pela alta qualidade do seu repertório assim como também pela beleza de sua voz e dicção perfeita.
Assim sendo, quando em fevereiro de 2004 ela lançou Urbanita, o seu nome e voz foram finalmente compartilhados por todos. Urbanita é uma estréia magnífica para uma cantora que já deveria estar no mercado há muitos anos. Em suas próprias palavras, Idilva fala sobre a dificuldade na escolha do repertório deste álbum.
Você quer colocar tudo o que gosta e isso não é possível. É preciso limitar e selecionar cuidadosamente para que o CD tenha uma cara e não fique parecendo uma colcha de retalhos.
E esta cuidadosa seleção realmente fica estampada aqui. Urbanita tem clássicos brasileiros, novas canções e até mesmo clássicos do repertório norte-americano. Acima de tudo, além do repertório fantástico, os belos arranjos de Marcos Maia, Maurício Matos (seu esposo), Heriberto Porto (do Marimbanda), Pádua Pires e Aroldo Araújo, a voz de Idilva e suas interpretações são simplesmente espetaculares. Em apenas 44 minutos, ela é capaz de compartilhar a sua visão musical e interpretações apaixonadas com classe e muita segurança.
A abertura suave dos violinos, viola e cello na introdução de “Parque Araxá” é linda. A canção é urbana em sua essência e fala da beleza daquele bairro de Fortaleza e dos sonhos que lá vivem. A palavra é o ponto focal no canto de Idilva, quer seja na sua articulação ou na própria música, como é o caso de “Words”. A seguir temos dois clássicos brasileiros. Em “Medo de Amar” (Vinícius de Moraes), Marcos Maia e Pádua Pires juntam seus violões acústicos ao acordeon saudoso de Adelson Viana. Em “É Preciso Perdoar”, por outro lado, Idilva optou por um samba leve enaltecido pela percussão de Hoto Júnior e Luiz Duarte.
É claro que o solo da flauta de Heriberto Porto é como se estar em um paraíso. Em perfeito balanço no repertório, os dois clássicos norte-americanos, “My Funny Valentine” e “It Ain’t Necessarily So”, provam a qualidade que Idilva tem ao abordar canções de outro cancioneiro. O seu comando do inglês é fenomenal. O arranjo de Maurício Matos para este clássico dos Gershwins é perfeito. A voz de Idilva é suave e brinca ao redor do solo de saxofone feito por Marcos Resende. Outro ponto forte em Urbanita fica a cargo das canções originais apresentadas aqui. Além das duas primeiras faixas, não se pode omitir a belíssimo bolero escrito por Maurício Matos e José Evangelista Moreira “Dedé”, que juntos contribuíram com quatro faixas neste maravilhoso álbum. “Te Rejeito” é aquela canção que todos nós precisamos pelo menos uma vez na vida. Aquele momento inesquecível de apaixonados quando o amor acaba é o tema da canção. Dois amantes são causa e efeito, mas se não existe mais amor, rejeição é a única solução. O solo de clarinete de Carlos Ferreira é marcante. O sabor bossa nova em “Conflito” — graças a magia da flauta de Heriberto Porto novamente — irá fatalmente levar o ouvinte a pensar no clássico jobiniano “Insensatez”. A letra de Climério fala da incompreensão e conflito entre a mente e o coração.
No encarte do CD, Idilva diz que Urbanita reuniu canções que traduzem sua “experiência sonora na urbe multicultural”. Agora é, portanto, a vez do ouvinte de desfrutar da paixão no mundo de Idilva. Urbanita é uma estréia de muita força e definitivamente uma adição para a minha lista de discos para aquela ilha deserta perfeita.
FICHA TÉCNICA:
Idilva Germano
Urbanita
Independente (2004)
Tempo: 44’00”
Faixas:
- Parque Araxá (Ruy Vasconcelos)
- Words (Maurício Matos – José Evangelista Moreira “Dedé”)
- Medo de Amar (Vinícius de Morais)
- É Preciso Perdoar (Carlos Coqueijo – Alcivando Luz)
- My Funny Valentine (Richard Rodgers – Lorenz Hart)
- Te Rejeito (Maurício Matos – José Evangelista Moreira “Dedé”)
- Conflito (Petrúcio Maia – Climério)
- It Ain’t Necessarily So (George Gershwin – Ira Gershwin)
- Le Flâneur (Pádua Pires)
- Other Words (Maurício Matos – José Evangelista Moreira “Dedé”)
- Gymnosatie (Maurício Matos – José Evangelista Moreira “Dedé”)
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